Um dos cases mais famosos quando se fala em Governança Corporativa, pelo menos no que se refere ao Brasil, certamente é a Sadia.
Conhecida por possuir uma suposta boa governança, estruturada e profissionalizada, onde a família controladora estava fora do negócio há anos, a empresa contava com várias auditorias, conselho fiscal e de administração e comitês, e mesmo assim acabou ficando exposta por conta do prejuízo bilionário ocorrido em 2008, resultado de especulações no mercado financeiro.
Obviamente, existem muitos fatores que ajudaram a criar esse ambiente que resultou no prejuízo de cerca de R$ 3,8 bilhões, além da posterior venda da empresa para a principal concorrente.
A Sadia tinha obtido lucro em todos os anos de sua existência, era uma empresa exportadora e por conta disso, era crucial estar sempre atenta ao dólar. Na época, ocorreu um excesso de confiança na valorização do real e resolveu especular o mercado financeiro, desde então, começaram os grandes problemas.
Com a disparada do dólar que gerou prejuízo financeiro, o que parecia uma boa governança, logo mostrou que havia situações com a estrutura que demostravam que o modelo de governança tinha erros graves, como a existência de pessoas em cargos que eram simultaneamente responsável por tomar risco e por realizar seu controle, o que gerava interesses conflitantes.
Além disso, a efetividade dos comitês do conselho ficou questionável, após uma série de situações como a inatividade de um dos comitês por quase um terço de seu mandato, ou mesmo a falta de discussão do caso por outro comitê, devido a uma “falta de tempo na reunião”, ainda que o tema estivesse na pauta, causando a postergação da discussão, que jamais correu em nenhuma outra reunião.
Outro aspecto de extrema importância foi a falta de conhecimento dos conselheiros sobre o que estava acontecendo na empresa, o que ficou claro ao serem questionados sobre o responsável pelas operações financeiras contratadas, além da falta de temas sobre o controle das operações financeiras nas atas de reunião do conselho no segundo semestre de 2007, o que gerou diversas punições para os conselheiros, pela falta de diligência.
A política de compliance da empresa também foi um fator relevante, pois, apesar de ser bem formulada, não possuía mecanismos de implantação e controle interno que garantisse seu cumprimento.
Aparentemente, a remuneração da área financeira tinha um elemento variável ligado aos ganhos financeiros em operações com derivativos, o que pode ter levado os executivos a assumir um comportamento mais arriscado. A análise de cases como esse nos fazem refletir sobre a governança feita de forma vazia, sobre times não engajados e sobre políticas deixadas no papel. A real governança, cuja intenção maior é organizar uma empresa de forma a evitar que problemas como esse ocorram, desde que todos os passos sejam feitos com seriedade, pois, de nada adianta uma empresa possuir políticas, processos e regras, para que nada disso funcione efetivamente e gere a morte de mais uma empresa.
Data: 24/05/2022